Adoção Tardia.
Especial Adoção:"Ao fazer uma reportagem sobre adoção, me sensibilizei e adotei uma criança", diz jornalista
Ana Cristina conheceu a criança ao visitar uma casa de adoção
“Quando resolvi adotar uma criança ninguém me apoiou. Na época, não
ouvi nenhuma opinião positiva. Ninguém me deu força ou disse. ‘poxa, que
legal’. Por isso, para quem deseja adotar uma criança, eu digo: Não
ouça o que as pessoas dizem. Não deixe se levar pelo preconceito. Pense
com o coração”. O conselho é da jornalista Ana Cristina Sampaio, mãe de
Raíi Sampaio, 21 e Eri Sampaio, 13. O que Ana, Eri e Raíi têm em comum?
Constituem uma família, cujo laço que os une não é o de sangue, mas o de
amor.
Um dia após o Dia Nacional da Adoção, o CadaMinuto traz a história da
jornalista Ana, que adotou Eri quando tinha cinco anos de idade.
Para a jornalista, o desejo de adotar uma criança surgiu enquanto
preparava uma reportagem que incentivasse a adoção de crianças e
adolescentes. “Na época eu estava preparando uma matéria para incentivar
a adoção, mas não tinha ideia de que a primeira pessoa sensibilizada
com o tema seria eu. Costumo dizer que fui vítima da minha própria
matéria”, desabafa.
Após conversar com mães adotivas e com o juiz responsável pela adoção,
Ana foi a um abrigo conhecer a realidade de crianças com até sete anos
de idade. O que Ana não sabia era que lá estava o menino que futuramente
seria seu filho. “Conheci meu filho quando visitei àquela casa de
adoção. Ao chegar lá, meu primeiro choque foi o nível de carência que
elas tinham. Pediam-me colo, beijo, que passassem a mão no cabelo. É
impossível entrar naquele lugar e o coração não sair mexido”.
Durante a visita, Eri confessou um de seus medos a Ana: temia ser
transferido para uma instituição com jovens e adultos. A transferência,
chamada de “paredão” pelos abrigados, causava receio, incertezas e medo.
Após o desabafo, Ana diz que ficou pensando durante noites sobre o medo
da criança e decidiu voltar à casa de adoção.
Inicialmente, a ideia que tinha era proporcionar à criança apenas
finais de semana de descontração e alegria, mas logo foi iniciado o
processo de guarda provisória, e por fim, a guarda efetiva. Ana e Eri se
tornavam, oficialmente, mãe e filho.
Durante os dois anos que teve a guarda provisória de Eri, Ana explica
que nunca foi chamado de mãe, apenas de tia. “Ninguém conseguia fazer
ele me chamar de mãe. Se perguntassem a ele: onde está a sua mãe? Ele
mostrava onde eu estava. Mas, olhar para mim e dizer ‘mãe’, ele nunca
disse”, afirma.
Segundo Ana, o filho tinha medo de que o juiz o levasse de volta, e,
somente, com a guarda efetiva, que inclui o registro do nome de Ana em
sua certidão de nascimento, é que o filho passou a chamá-la de mãe.
Hoje, passados oito anos em que foi adotado, a mãe pergunta ao filho
Eri: “Filho você vai cuidar de mim quando eu estiver velhinha?”, e ele
responde: “Claro. Você não cuidou de mim? Então eu vou cuidar de você!”.
Questionada sobre a mudança em sua vida após a adoção, a mãe é enfática
e diz: tudo. Com os meus filhos eu tenho o que a vida pode ter de
melhor.
Para o irmão Raíi, que na época tinha 13 anos quando aconteceu a
adoção, diz que, no início, foi difícil acostumar com a ideia de ter um
novo irmão, mas ressalta que hoje a relação é muito boa. “No início eu
tive dificuldade em lidar com a ideia de ter um irmão e resolvi morar um
tempo com o meu pai. Mas hoje a situação mudou e minha relação com ele é
muito boa. Ele é uma criança como todo mundo já foi. Não lembro que ele
é adotado nem faço questão de lembrar. O que importa é que ele é meu
irmão.”, disse.
Para as pessoas que desejam adotar uma criança, a mãe Ana Cristina deixa a mensagem.
“Há pessoas que quando pensam em adotar uma criança, pensam se é louro,
moreno, na idade, ou se vai atender as expectativas de familiares e
amigos. Elas parecem esquecer que o filho que é gerado da nossa barriga
também não nos dá a certeza de que será saudável, bonito,
inteligente. Então, por que quando você vai adotar uma criança ou
adolescente é preciso ter todas estas garantias? Os riscos são os
mesmos.”, finalizou.
Adoção em Alagoas
Da mesma forma que Eri foi adotado, outras crianças aguardam à adoção.
Em Alagoas, são 25 crianças e adolescentes registrados no Cadastro
Nacional de Adoção, sendo 22 em Maceió e outras três nas cidades de
Arapiraca, Cacimbinhas e Junqueiro. Na lista de espera para adotar, há
83 pessoas, entre solteiros, casais heterossexuais e homossexuais.
Apesar do número de adotantes ser superior ao de pessoas que aguardam a
adoção, muitas crianças e adolescentes não são adotados porque não
correspondem ao perfil que os adotantes desejam.
De acordo com Fátima Pirauá, presidente da comissão estadual judiciária
de adoção da Corregedoria-Geral da Justiça de Alagoas (CGJ-AL),
geralmente as pessoas optam por crianças recém-nascidas, do sexo
feminino e sem problemas de saúde. “As pessoas estão querendo escolher
uma criança como se estivesse escolhendo uma mercadoria”, afirma Pirauá.
Em Alagoas a faixa etária de crianças e pré-adolescentes que aguardam a adoção é entre nove e 17 anos.
Dizer ou não que é adotado?
Após a adoção, muitos pais têm dúvida se deve revelar ou não ao filho
que ele é adotado. Diante da situação, conversamos com a psicóloga
Heliane Leitão. Para ela, o aconselhável é conversar sobre a adoção.
“Ainda que seja muito difícil para os pais contarem, a criança tem o
direito de saber que é adotada. Faz parte da história dela”, disse.
Heliane explica ainda que com o tempo as crianças vão perceber
elementos que vão indicar a adoção e vão começar a fazer perguntas como,
por exemplo, sobre como foi o nascimento, onde foi, vão querer saber o
porquê de não ter fotos da mãe grávida.
“Se a criança ainda não entende o significado de ser adotada, o ideal é
que os pais revelem a adoção aos poucos e de forma sutil para que elas
não fiquem chocadas no futuro. Como, por exemplo, que ela nasceu de
forma muito especial, e que apesar de não ter nascido da barriga de sua
mãe adotiva, ela nasceu do sentimento, do amor e do desejo em lhe ter
como mãe”.
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